O que é um medicamento homeopático?
É considerado medicamento homeopático aquele que se mostrou ser capaz de causar uma doença artificial num indivíduo, doença está que se manifesta através de sintomas e sensações.
Esta sua qualidade pode ter sido descoberta por experimentações no indivíduo sadio, em intoxicações e envenenamentos ou em observações clínicas.
Diz-se que ele deve ser diluído (suavizado) e
succionado (para ser dinamizado), embora algumas vezes Hahnemann
e outros homeopatas antigos tivessem usado certas substâncias in natura, principalmente plantas, em tratamentos.
A origem dos medicamentos homeopáticos
Eles provêm dos três reinos da natureza (mineral, vegetal e animal), assim como de substâncias industrializadas, de laboratórios biológicos e, em pequena proporção, de materiais fisiológicos e patológicos.
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Reino Vegetal
O reino vegetal contribui com o maior número de medicamentos homeopáticos, sendo alguns muitos importantes, como o Lycopodium clavatum (pó inerte antigamente usado como excipiente em alopatia).
Como a Homeopatia começou na Europa, naturalmente a grande maioria dos medicamentos são originários deste continente. Com a expansão da Homeopatia pelo mundo, outros vegetais típicos de outras regiões foram, estão e serão incorporados àqueles estudados por Hahnemann e seus discípulos.
A utilização dos vegetais na preparação dos medicamentos homeopáticos deve ser precedida da perfeita individualização do vegetal (micro e macroscopicamente). Também deve ser ter o conhecimento das partes ou parte da planta a ser utilizada. Se foi feita a experimentação com a raiz de uma planta, por exemplo, é essa a parte que deve ser usada para se fazer o medicamento.
As farmacopeias e/ou as matéria médicas homeopáticas trazem essa informação, que nem sempre coincidem com a utilização feita de uma planta na fitoterapia. Também informam como devem ser feitas cada uma das preparações de cada medicamento.
A Farmacopeia Homeopática dos EUA menciona também as condições atmosféricas, época do ano, estado da planta em que se deve coletar o vegetal, levando-se em conta a parte da planta a ser utilizada. Por exemplo: colher a planta toda na época da floração, recolhida com sol.
Reino Animal
O reino animal fornece menos matéria prima para a preparação do medicamento homeopático, mas não é menos importante.
Os mesmos cuidados referentes ao reino vegetal são exigidos aqui:
perfeita individualização do animal, conhecimento da parte ou partes a serem utilizadas, época do ano, estado do animal, idade e condições em que deve recolher-se a droga, emprego do matéria vivo ou morto, fresco ou seco, local de coleta, etc.
Todas essas condições dever estar descritas na farmacopeia homeopática e/ou na matéria médica.
Reino Mineral
O reino mineral é o segundo em importância pelo número de medicamentos que proporciona. Podemos classificar esses produtos segundo sua origem em:
- naturais - aqueles obtidos diretamente da natureza,
- químico-industriais - obtidos em laboratórios ou na indústria química farmacêutica,
- exclusivamente homeopáticos - obtidos segundo fórmulas originais de Hahnemann.
Como nas preparações anteriores, aqui também se faz necessário o conhecimento exato da fórmula química, denominação científica, natureza da droga, estado dela a utilizar, condição de hidratação, local de coleta, etc.
Exemplos de medicamentos homeopáticos segundo sua origem:
1. Reino vegetal:
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1.1 - planta inteira - Pulsatilla nigricans, Aconitum napellus, Belladonna.
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1.2 - folhas - Rhus toxicodendron, Thuya ocidentalis.
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1.3 - cascas - China officinalis (casca do caule), Rhamnus frangula (caule), Berberis vulgaris (casca da raiz).
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1.4 - raiz - Ipecacuanha, Bryonia alba, Cimifuga racemosa.
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1.5 - frutos ou sementes - Agnus castus, Coffea cruda, Anacardium orientale, Nux vomica.
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1.6 - flores - Calendula officinalis, Cina anthelminthica, Sambucos nigra.
- 1.7 - bioterápicos - produtos patológicos - Secale cornutum (esporão do centeio), Ustilago maydis (mofo do milho).
2. Reino animal:
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2.1 - animal inteiro - Apis mellifica, Formica rufa, Blatta orientalis.
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2.2 - partes de animal - Carbo animalis (couro de boi carbonizado).
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2.3 - sarcódios (secreção do animal são) - Calcarea ostrearum, Sepia tinctoria, Moschus.
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2.4 - Bioterápicos - de bactérias e suas toxinas, de órgãos enfermos - Streptococcus, Tuberculinas, Pyrogenium.
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2.5 - Organoterápicos - ( orgãos frescos ou secos e secreções) - Tireóide e tiroxina, ovério e foliculina, pâncreas e insulina.
3. Reino mineral:
- 3.1 - Origem natural - Kalium bichromicum, Acidum nitricum, Cuprum mettalicum, Platinum metallicum, Natrum muriaticum, Graphites, Sulphur.
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3.2 - Origem industrial - Antipirina, Formalinum, Codeinum, Urotropinum.
- 3.3 - Exclusivamente homeopática - Hepar sulphur (sulphur mais Calcarea ostrearum calcinados), Causticum, Mercurius solubilis.
Nomenclatura
A denominação dos medicamentos homeopáticos deve seguir as regras internacionais de nomenclatura botânica, química, biológica, farmacêutica e médica, embora muitas vezes tenha mantindo uma nomenclatura científica mais antiga, por tradição e comodidade.
Suplementarmente poderá ser usada uma sinonímia comum, popular ou indígena, a critério da Subcomissão de Assuntos Homeopáticos da Comissão de Revisão da Farmacopeia Brasileira Homeopática.
Tradicionalmente usam-se nomes latinos ou latinizados, com a primeira letra do gênero com maiúscula e a primeira da espécie e subespécie em letra minúscula.
Exemplo:
Arnica montana.
No caso de ser usado somente uma espécie de um determinado gênero, é facultado omitir a espécie, desde que não vá criar confusões:
Arnica, para Arnica montana.
Casos em que não é possível usar, por exemplo: Aconitum, pois existem o Aconitum napellus (mais usado) e o Aconitum ferox.
Em casos de nomes já consagrados, é facultado usar somente o nome da espécie, omitindo-se o nome do gênero.
Por exemplo:
Belladona no lugar de Atropa belladonna,
Chamomilla no lugar de Matricaria chamomilla,
Dulcamara, em vez de Solanum dulcamara,
Millefolium, em vez de Achilea millefolium,
Nux vomica, no lugar de Strychnos nux vomica.
Na terminologia de substâncias químicas, deve-se usar a nomenclatura científica oficial completa, sendo, entretanto, toleradas as designações e as grafias antigas. Exemplos:
DESIGNAÇÃO ATUAL...............................DESIGNAÇÃO ANTIGA
Barium e seus compostos.................................Baryta e seus compostos |
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Calcium e seus compostos...............................Calcarea e seus compostos |
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Kalium e seus compostos.................................Kali e seus compostos |
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Natrium e seus compostos............................... Natrum e seus compostos |
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Magnesium e seus compostos...........................Magnesia e seus compostos |
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Bromum e seus compostos...............................Bromium e seus compostos |
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Iodum e seus compostos..................................Iodium e seus compostos |
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Sulfur e seus compostos...................................Sulphur e seus compostos |
No caso de compostos químicos, escreve-se, de preferência, em primeiro lugar o nome do elemento ou radical de valência positiva, e em segundo lugar, o de valência negativa.
Exemplos:
Acidum hydrochloricum, em vez de Muriaticum acidum,
Acidum phosphoricum, em vez de Phosphori acidum,
Acidum nitricum em vez de Nitri acidum,
Acidum sulphuricum em vez de Sulphuris acidum.
Abreviaturas
Nome do medicamento homeopático pode ser abreviado, desde que não dê margens a confusão.
Por exemplo :
Bell. ou Bellad., em vez de Atropa belladonna ou Belladonna.
Deve-se tomar cuidado com abreviações do tipo Kal. ch. ou Kal. chlor. que tanto podem significar Kalium chloratum (Kal. chlorat.) como Kalium chloricum (Kal. chloric.).
Rotulagem do medicamento no Brasil
O medicamento homeopático, em qualquer apresentação, está sujeito às determinações legais quanto à rotulagem. Dever-se-á obedecer às bases fundamentais da Farmacopeia Brasileira:
- 1. A denominação dos medicamentos obedecerá à nomenclatura adotada internacionalmente.
- 2. A escala e a dinamização pertinentes a cada medicamento são dados imprescindíveis nos seus rótulos, dos quais devem constar ainda os seguintes elementos: via de administração, forma farmacêutica e nome da Farmacopeia onde se acha inscrito.
- 3. No caso de produtos perecíveis, os rótulos deverão trazer prazo de validade, cuidados de conservação, incluindo a necessidade de refrigeração se for o caso.
Modelo de rótulo
Nome do medicamento, grau de diluição, dinamização, escala utilizada,
Forma farmacêutica (líquido, trituração, glóbulos, pastilhas, comprimidos, etc)
Via de administração (uso interno ou externo)
Farmacopeia (Farmacopeia Homeopática Brasileira),
Conteúdo: 15 ml, 10 g., etc.
Data de fabricação: março/92 ( ou 7/março/92), ou no caso de produtos com conservação muito limitada, 48 horas, por exemplo.
Arnica montana
líquido 15 ml
uso interno
março/92
Farm.Hom.Bras.
Métodos de dinamização
1. HAHNEMANNIANO, CLÁSSICO OU DE FRASCOS MÚLTIPLOS
Escala centesimal
Para obter-se 100 partes da primeira diluição centesimal (C1), colocar no primeiro frasco:
99 partes de veículo
1 parte do insumo ativo
(forma farmacêutica básica- tintura mãe ou trituração)
De acordo com a Farmacopeia Homeopática Brasileira, deve-se dar 20 sucussões vigorosas. A técnica descrita por Hahnemann, em seu Organon prescreve 100 sucussões, embora seja discutível se esta citação é para a dinamização de centesimais ou apenas das cinquenta milesimais. A primeira diluição centesimal é a 1/100 ou C1.
E assim sucessivamente.
Obs: Escala decimal
Esta escala não é considerada hahnemanniana.
Para se obter a primeira diluição (D1 ou X1), coloca-se 9 partes do veículo e 1 parte do insumo ativo ( tintura-mãe ou trituração).
Segundo a Farmacopeia Homeopática Brasileira, dar 10 sucussões vigorosas e obtém-se a D1. Para se obter a D2, pegar 9 partes do veículo e 1 parte da D1, fazer sucussões e obtêm-se a D2, e assim sucessivamente.
Usa-se o etanol diluído como veículo.
2. KORSAKOVIANO OU FRASCO ÚNICO
Este processo só é permitido, no Brasil, para preparações acima de 30 CH.
Pra obter-se a primeira diluição Korsakoviana (K31), coloque num frasco de 20 ml, 5 ml de insumo ativo (30 C).
Emborque o frasco, deixando o líquido escorrer por cerca de 5 segundos. A diluição aderente às paredes do frasco constitui o insumo ativo (ponto de partida) para a diluição seguinte. Colocar no frasco 5 ml de etanol diluído e proceda a 20 sucussões vigorosas.
Esta diluição é designada K 31.E assim é feito sucessivamente.
3. FLUXO CONTÍNUO
Diferentemente do que ocorre em outros países, no Brasil, e particularmente em São Paulo, a obtenção de medicamentos em média e alta potência (acima de 30 CH) está em grande parte concentrada nas mãos dos laboratórios, já que as farmácias não dispõem de equipamentos de fluxo contínuo.
4. CINQUENTA MILESIMAL
Segundo Hahnemann no parágrafo 270 da sexta edição de seu Organon, um tipo de preparação que produz medicamentos com maior desenvolvimento de poder curativo, e de ação mais suave (menos agravações).
Abstenho-me de descrevê-lo por não dominar o entendimento desse método.
Medicamentos
Formas Farmacêuticas
As formas mais comuns são gotas ou glóbulos, mas a Farmacopeia Homeopática Brasileira registra também tabletes, comprimidos, pós, pomadas, cremes, óleos, óvulos, supositórios, colírios e outras.
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GOTAS- são preparadas em soluções hidro alcoólicas, de 30 a 70%. de acordo com o estabelecido no receituário ou em sua falta, a critério do farmacêutico.
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GLÓBULOS- são preparados de sacarose e recebidos inertes pela farmácia e são impregnados pela potência desejada, com álcool acima de 70%.
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TABLETES- podem ser preparados na farmácia a partir de massa feita com solução hidro alcoólica com o medicamento e lactose, ou da própria trituração umedecida em solução hidro alcoólica. É moldada em tableteiros e tem como desvantagem serem frágeis e quebradiços.
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COMPRIMIDOS- são também de lactose, porém feitos por máquinas industriais de alta compressão, dando um produto final duro e resistente.
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PÓS- são preparados a partir da impregnação de lactose com o medicamento prescrito (solução hidro alcoólica de 70% ou mais), ou da própria trituração inicial das substâncias. É acondicionado em papéis.
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POMADAS- compostas por lanolina e vaselina, são untuosas, e geralmente veiculam tinturas fitoterápicas.
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CREMES- emulsões formadas por uma base oleosa e outra aquosa, menos untuosa, também geralmente veiculam fitoterapia.
Quantidades de medicamento a ser dispensada
É o volume de medicamento que a farmácia deve preparar. Caso não seja determinado, fica a critério do farmacêutico.
Exemplos :
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Nux vomica 12 CH líquido.
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Nux vomica 12 CH X/30 ml (10 gotas em 30 ml de água), tem validade de 48 horas.
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Nux vomica 12 CH V/XXX/20 ml (5 gotas em 20 ml de álcool a 30%).
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Nux vomica 12 CH glóbulos.
As dose únicas líquidas serão aviadas com 4 gotas do medicamento em 2ml de água destilada, com validade de 48 horas, ou alcoolizada até 30% (aumentando seu prazo de validade), a não ser que o clínico queira de modo diferente.
As sólidas serão aviadas em 5 glóbulos ou 1 comprimido, ou 1 tablete, ou 1 papel.
Doses
- A quantidade e a frequência da tomada dos medicamentos é determinada pelo clínico.
Pode ser dose única ou repetida, a quantidade de gotas ou glóbulos a ser ingerida deve ser especificada, etc. -
Bibliografia:
Apostila do Curso de Homeopatia da Associação Paulista de Homeopatia, da farmacêutica Dra. Valéria Ota Amorim.